Meu último post foi sobre como a ansiedade pode ser contagiosa. Em um comentário, uma pessoa relatou que isso está ligado à empatia. Segundo ela, a capacidade que nós temos em nos colocar no lugar do outro tende a fazer com que nós, pessoas empáticas, soframos e nos exaustemos.
Isso é verdade. Há muito gente empática no mundo. Eu mesma sou uma delas. Isso me faz pensar que, por eu ser muito empática, sofro ainda muito mais com a situação alheia do que a própria pessoa em si. Ou melhor, acabo fazendo tempestade em copo d’água. Nesse viés, sinto uma necessidade urgente de querer ajudar de alguma forma - seja doando minha finita saúde, uma emoção positiva, um sorriso, um conselho, dinheiro, o que for. Eu quero ajudar e satisfazer os outros (alguma síndrome ou baixa autoestima, talvez?).
Muitas vezes, falando com a minha mãe, explico que eu gostaria de ter o poder de cura. Se você já assistiu Naruto, sabe que alguns ninjas possuem habilidades curandeiras, como a Tsunade e a Sakura, sua pupila. Para mim, desde criança, isso é fascinante. Imagina curar alguém só usando as suas mãos - ou melhor, seu chakra?
De fato, se preocupar demais é exaustivo. Às vezes, angustiante. Nesse processo, em grande parte a gente tende a se diminuir para “aumentar” o outro, fazendo coisas que não gostamos/queremos, só para agradar. Até aí tudo bem. Mas ultimamente, parece que está acontecendo o inverso. As pessoas não se importam mais com as outras. Eu achava que isso poderia ser normal entre desconhecidos ou com situações que não podemos mudar, como com a crise climática ou o fato de muita gente do mundo estar passando fome.
Aliás, o que eu posso fazer para diminuir a temperatura global? Ou ainda, o que posso fazer com o fulano pedindo esmola no sinal? E daí que mais comida esteja sendo jogada fora do que entrando no prato de muita gente? Enfim, de certo modo, comentários desse tipo foram/são normalizados por muito tempo. Criamos uma barreira e colocamos uma venda em nossos olhos para não enxergar que, no mundo real, pessoas, animais e situações estão passando dificuldades e precisando de ajuda. Para nós, isso é externo. Não é problema nosso. Para que se preocupar em preservar uma floresta para as gerações futuras se você nem vai estar aqui mesmo, né? Pois é. Alguém do passado pensou assim, e olha só: estamos pagando o preço com uma temperatura média planetária acima dos níveis pré-industriais, pela primeira vez na história, ultrapassando 1,5ºC! Quer mais? A cada minuto, o equivalente a um caminhão de lixo de plástico é jogado no mar. Tem microplástico em tudo! Até no saquinho do chá que nós tomamos!
Mas não é sobre crise climática que eu venho falar aqui. É sobre crise de empatia entre conhecidos mesmo. Há um tempo eu venho percebendo certo descasos entre próprios familiares e/ou amigos. “Ah, mas problemas familiares sempre existiram, piriripópópó”. Isso não é verdade. Tudo bem que muitas vezes nós assistimos nos jornais sobre casos assim (fulano matou irmã/mãe, padrasto, etc.), mas são exceção e ganham atenção pelo absurdo cometido. O fato é que hoje as pessoas, no geral, parecem estar cheias de orgulho e estão fechando os olhos para a própria família. Por exemplo, um familiar está doente e abatido. Esse familiar tem um filho. O filho, ao invés de ajudar, não está nem aí! Muito pelo contrário, diz que não é problema seu, fecha os olhos e segue a própria vida.
Hoje, por exemplo, vi uma publicação de uma mãe relatando a espera que ela está tendo para que sua bebê complete 1 ano logo e possa comer sal, para assim, levar a introdução alimentar a sério. Muitas mães não sabem alimentar seus filhos. Na verdade, muitos estudos indicam que a alimentação materna, quando o bebê ainda está no útero, pode afetar a vida inteira do futuro ser que está a nascer. Ainda mais, nos primeiros anos de vida, a alimentação é super importante e, se não correta, pode interferir e aumentar os riscos da criança desenvolver diversas doenças.
Nesse caso, a mãe está certa em se preocupar com a alimentação do seu filho, se adequando às necessidades nutricionais ideais para o desenvolvimento dele, mesmo sem entender o porquê e só seguindo as diretrizes de um Guia Alimentar para Crianças Brasileiras. O fato é que aqui no Brasil, nós usamos MUITO sal e MUITO açúcar na comida. Os estrangeiros, ao virem ou provarem nossa comida, sempre afirmam ou estar muito salgada, ou estar muito doce. E isso é verdade. Até a coca-cola daqui é mais doce. Nós, seres humanos, necessitamos de pouco sódio em nossa dieta, principalmente os bebês. O sódio já está presente no leite materno e nos alimentos, e qualquer adição pode gerar uma sobrecarga renal, contribuindo para uma futura hipertensão. O problema não está nem na adição do sal em si, mas no excesso utilizado pelo brasileiro.
Mas o que me chamou mesmo a atenção foi uma resposta de uma outra mãe. A mesma afirma que o filho dela come comida com sal mesmo, pois “ela não é uma mulher maravilha para cozinhar duas vezes (uma para família e outra para o filho) e que a OMS que se lasque porque na casa dela quem diz o que é melhor para o filho é ela”. Hm, e quando o rim do seu filho se sobrecarregar? Aliás, a Organização Mundial de Saúde não está obrigando ninguém, apenas informando! Aqui vemos uma pessoa que não está escolhendo o que é o melhor para o filho dela (nem para ela mesma), mas apenas fazendo o que é mais fácil! Ela não está fazendo pela saúde do filho, nem para o bem-estar dele, apenas fazendo tudo de qualquer jeito e usando essa justificativa para não se sentir culpada.
É isso o que está acontecendo. Pessoas estão com preguiça demais. Confortáveis demais. Tudo demais para não apenas não cuidar de si, mas para cuidar de um ente querido. O que você faz ou deixa de fazer no agora terá impacto no futuro. Aquele biscoitinho recheado ou aquele bolinho que você ofereceu ao seu irmão terá impacto na glicemia dele, mesmo que ele não seja diabético no momento, mas tenha histórico na família. Um dia, quando a resistência à insulina chegar e ele estiver tomando 10 caixas de remédios para controlar o açúcar no sangue, será tarde demais.
Isso me lembra do filme “A Baleia”. Nele, nós temos a enfermeira Liz, interpretada pela atriz Hong Chau, sendo amiga e cuidadora do protagonista, o professor Charlie, o qual sofre de obesidade severa e possui transtorno de compulsão alimentar. Tudo bem que estão ambos lidando com o luto de um ex-marido e ex-irmão, mas isso não é justificativa para servi-lo com comidas que irão piorar ainda mais a condição do personagem. É como oferecer uma arma para um suicida. É ele quem puxa o gatilho, não você. É ele quem come, não você. Ela diz que isso não faz bem para ele, mas continua a oferecer um monte de porcarias. É importante notar que falar é diferente de fazer. Para mim, ela é uma manipuladora que perdeu a esperança em si mesma e nos outros após a morte do marido, humilhando o cunhado, se sentindo culpada e “o bombardeando com amor” através da comida. É como se ela estivesse o punindo inconscientemente pela morte do irmão dele.
As pessoas não estão preparadas para sair da zona de conforto pelo outro. A saúde mental de todos está corrompida. Se uma mãe não pode separar um dia da semana para preparar marmitas adequadas ao próprio filho, o que o mundo é capaz de fazer pelos outros? Você acha que ela seria capaz de mudar os próprios hábitos ou o da casa em prol das restrições alimentares de um filho ou outro ente querido? Não é normal ver um familiar morando perto passar mal e dar a desculpa esfarrapada que “está cansada e não pode ir visitar agora” ou “tem outros familiares que podem fazer isso, não precisa ser eu” ou nem sequer procurar estudar sobre a condição alheia, muito menos tratamentos, mudanças que possam beneficiar aquilo, ou até fazer doença X entrar em remissão. Não, muita gente prefere fechar os olhos, viver no comodismo e depois apenas “remediar” com uma “pílula mágica” . Ah, olha só para mim, enchi minha mãe idosa diabética com um monte de amido e agora vou ali oferecer um remedinho, uma picada de insulina, e depois vou sair e aproveitar a minha vida. O meu eu já fiz. Tá pago.
Eu sigo muitas pessoas que mudaram completamente o modo de vida após receberem o diagnóstico de um ente querido. Muitas mães não só apenas controlam a alimentação dos próprios filhos autistas, diabéticos, com síndromes (como a Síndrome de Prader-Willi), com Crohn, celíacos, etc., como também modificam a sua própria alimentação. Eu faria o mesmo.
Mudar de lugar, por mais que doa, é necessário.
Abrir mão de olhar pro próprio umbigo para um bem maior é necessário.
Mudar seus hábitos, sua vida, sua forma de pensar são formas de amor. Você percebe, independente do obstáculo, você é forte e pode enfrentá-lo. É uma oportunidade de amadurecer, de estudar, de conhecer um mundo além da sua própria mente fechado. É estender a mão e abrir os olhos para a verdade, a qual não precisa ser ruim e cruel.
Precisamos ter conexão. Não estranhamento. Precisamos de um olhar empático e respeitoso. Muita gente acha que receber um diagnóstico é o fim. Um fardo. Mas não. Pode ser a oportunidade para uma mudança necessária. Para mais sabedoria. Mais amor. Se não estamos nem mais respeitando a própria família, quem iremos respeitar?