Quem lembra da parlenda “Cadê o toucinho que estava aqui?”.
Pois é. Não bastasse o sumiço do toucinho, agora quem sumiu foram os sapos, ou melhor, os anfíbios. Dia dessas, tarde da noite, comentei com a minha mãe o fato de nunca mais ter visto ou escutado um sapo. Ela concordou. O que antes era frequente, agora se tornou raro. Assim como os vaga-lumes (eu daria tudo para ver um - ou vários - como costumava ver na minha infância - era mágico).
Aqui em casa, no quintal e no jardim, sempre haviam alguns sapinhos pequenos. Um, em particular, vivia dentro de um cano no quintal, por onde a água da pia da água de serviço escoava. Eu o chamava de Jeremias. Posso dizer com toda certeza que esse sapinho vivia sua melhor vida: bastante água, comida e até carinho.




Apesar de bióloga, não sou especialista em herpetologia (a ciência que estuda os répteis e anfíbios). Se eu olhar um sapo, eu vou falar que é um sapo. Se eu olhar uma rã, direi que é um sapo. Se eu ver uma perereca, eu direi que é um sapo. Acho que entenderam.
Ok, exageros à parte, eu não sou uma bióloga tão ruim assim, eu até sei diferenciar, mas não me chame para identificar fauna e flora. O fato é que os anfíbios, no geral, são os vertebrados mais ameaçados a entrarem em extinção. Segundo os dados do Instituto Nacional da Mata Atlântica - INMA, mais de 120 espécies desapareceram do nosso planeta em apenas 40 anos. Não somente, 40% das espécies correm o risco de desaparecer nas próximas décadas.
Durante a faculdade, eu já sabia que esse declínio estava ocorrendo, principalmente por conta das crises climáticas, o que afeta todo o ciclo de vida desses animais. Ora, com esse calor que nem nós aguentamos, quem dirá espécies que precisam de umidade para viver?
Porém, foi lendo o livro “A Sexta Extinção - Uma História Não Natural” da autora Elizabeth Kolbert, que percebi a verdadeira dimensão disso tudo. Já faz alguns anos que li (preciso reler), mas lembro haver um capítulo específico (o primeiro capítulo) para falar sobre o desaparecimento da espécie Atelopus zeteki, ou rã-dourada-do-panamá, uma rã amarela com manchas marrom-escuras considerada amuleto de sorte do país Panamá.
“Segundo uma lenda pré-colombiana da região central do Panamá, a rã dourada traz boa sorte. Qualquer um que a veja ou consiga capturá-la terá um futuro feliz. Sua tez amarela brilhante, pintada com manchas cor de café, era uma fonte de alegria para tribos indígenas, pois acreditavam que, quando o anfíbio morria, seu pequeno corpo se transformava em ouro.”
O capítulo retrata que, há cerca de uma década, era fácil avistar as rãs na cidade El Valle de Antón, sendo “uma loucura total”. Mas então elas começaram a desaparecer.
O desaparecimento só foi notado após uma estudante americana de pós-graduação pesquisar anuros na floresta tropical daquela área; porém, ao retornar ao El Valle depois de ter passado um tempo nos Estados Unidos escrevendo sua tese, não encontrou mais nenhuma rã - e nem qualquer tipo de anfíbio.
Atualmente, tentando conservar a população restante, pesquisadores criaram o Centro de Preservação de Anfíbios del Valle (Fundação EVACC), um local repleto de tanques contendo diferentes animais. Segundo Edgardo Griffith, diretor do local, as representantes das espécies são consideradas extintas na natureza. Não obstante, ele deixa claro que “estamos perdendo todos esses anfíbios antes mesmo de sabermos que eles existem.”
Os anfíbios existiam no planeta antes dos mamíferos, pássaros e dinossauros. Eles surgiram quando toda a área terrestre fazia parte de um continente enorme chamado Pangeia. Seus ancestrais saíram de dentro da água há cerca de quatrocentos anos atrás. Os Anura não possuem cauda em adultos, sendo os anfíbios mais bem-sucedidos, conhecidos pelos sapos, rãs e pererecas. Mesmo sendo grandes sobreviventes, eles parecem estar desaparecendo em muitas partes do planeta.
A causa da morte dos animais foi identificada como sendo um fungo quitrídio chamado Batrachochytrium dendrobatidis, uma espécie que nunca tinha sido vista antes. Esse fungo afeta a pele dos anfíbios, sendo encontrados nas copas das árvores e nas profundezas do solo. Segundo a autora, “a essa altura, o fungo parece de fato incontrolável”. Sabe-se que diversos fatores ameaçam esses animais, como as doenças fúngicas, a perda de habitat devido ao aumento do desmatamento, as mudanças climáticas e o aumento exorbitante da temperatura, além do uso indiscriminado de pesticidas em lavouras e a introdução de espécies exóticas invasoras, por exemplo.
Diversos fatores ameaçam essas populações, incluindo doenças fúngicas emergentes, perda de habitat devido ao aumento do desmatamento, uso indiscriminado de pesticidas em lavouras e plantações e mudanças climáticas.
Qual é a probabilidade de estarmos em uma sexta extinção?
Até agora houve cinco grandes extinções em massa ao longo da história, com uma perda profunda da biodiversidade. A primeira delas ocorreu no final do período Ordoviciano, a aproximadamente 450 milhões de anos atrás, quando a maioria das criaturas vivas viviam em ambientes aquáticos. Entretanto, a mais devastadora das extinções ocorreu no fim do período Permiano, há cerca de 250 milhões de anos, onde quase o planeta inteiro foi esvaziado. A mais famosa e recente ocorreu no fim do período Cretáceo. Nela, além dos dinossauros, os plesiossauros, mosassauros, as amonites e os pterossauros foram exterminados.
Entretanto, em termos normais, é muito raro ocorrer uma extinção. Quando consideradas em massa, as taxas de extinção disparam, onde uma parcela significativa da biota global é eliminada em um espaço de tempo geologicamente insignificante, em uma dimensão global e com uma perda considerável da biodiversidade.
Para anfíbios, porém, ainda não foi feito um cálculo para estimar a taxa de extinção, uma vez que os fósseis desses animais são raros. O mais provável é que uma espécie seja extinta a cada mil anos, mais ou menos - sendo menor que a taxa para os mamíferos. Mas ainda assim, somos capazes de observar esses seres como pertencentes de uma classe mais ameaçada do mundo no reino animal. No Brasil, os pesquisadores têm se alertado para o sumiço das espécies na Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do país, o qual possui apenas 10% da vegetação original.

Não é à toa que eu já não encontre mais sapinhos por aí. Para ser sincera, a última vez que avistei um foi no ano passado e, detalhe, ele estava atropelado. Parecia uma panqueca de sapo seco no meio da rua. Apesar da tentativa de ser cômica, isso me deixa triste. De acordo com estimativas globais, quatro em cada dez espécies de anfíbios estão sob o risco de desaparecer. A razão para isso? A destruição ambiental, é claro, fora os outros diversos fatores já citados anteriormente. Lamentável; uma vez que nossos amigos anfíbios trazem benefícios aos ecossistemas, controlando pragas, sendo indicadores ambientais, servindo como um serviço ecossistêmico com grande valoração ambiental com suas propriedades farmacêuticas, além de outras vantagens que ainda desconhecemos e só poderemos saber com mais estudos entre as espécies, as quais pedem socorro com o silêncio do seu coaxar.