Eu sempre lidei com uma ansiedade horrenda, a qual piorou muito depois que entrei na faculdade. Por causa dela, suspendi muitos semestres e tranquei muitas matérias. Não só nessa área, mas em outras, me sinto atrasada e impedida de muitas coisas. Ah, spoiler: apesar de tudo, eu consegui me formar!
No que concerne à religião, sinto-me culpada. Como diz em Filipenses 4:6: “Não andeis ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus”. Em Mateus 6:34 nós somos aconselhados: "Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal". Ultimamente, tenho orado muito para que Deus retire de mim toda essa agitação e ansiedade que perturbam minha mente. Mesmo medicada há anos, sinto que essa doença me controla de forma imperturbável, como se se apossasse de mim, me tirasse do ar e controlasse todos os átomos do meu corpo. Não somente, sinto-me culpada por ter isso. Já li e escutei inúmeras vezes que tal mal é uma possessão demoníaca, uma guerra espiritual, um obsessor, um sei lá o quê.
Depois que fui diagnosticada como autista, pude entender grande parte das minhas dificuldades durante a vida. Uma delas sendo a ansiedade. Antes, fui diagnosticada com fobia social, depressão, ansiedade generalizada, bipolaridade, borderline, transtorno alimentar e sei lá mais o que se é capaz de ser diagnosticada. Hoje percebo que foi tudo culpa de um diagnóstico tardio de autismo. Sim, todos são autistas hoje. Eu sou autista, minha vizinha é autista, aquela criança birrenta no shopping é autista, aquele influencer é autista, blá-blá-blá. É, talvez o autismo seja a nova modinha do momento. Mas fazer o quê? Eu não escolhi ser assim. Eu não quero ser assim. Se eu pudesse, eu seria neurotípica e ia viver feliz saltitando com tudo sendo fácil na minha vida, tendo amigos, uma vida social, boas relações e, principalmente, mais calma. Mas não, eu sou ansiosa, pareço uma zumbi, não sei conversar, fico agitada, não sei ficar quieta, faço coisas que não quero só para me adequar e satisfazer os outros, me sinto cansada física e mentalmente toda hora, sobrecarregada, irritada, com disbiose e inflamada.
Mas isso não era para ser um desabafo sobre como eu queria ser normal. É que ultimamente eu lembrei que li em algum lugar sobre o fato da ansiedade ser contagiosa. Mas, como nunca sei se foi algo que eu li mesmo ou se foi algo que sonhei ou pensei de forma aleatória, resolvi pesquisar e SIM: ansiedade é contagiosa. Eu comecei a divagar sobre isso quando percebi que fico 3x mais agitada quando tem alguém perto de mim ansioso também. Quando estou em situações sociais, tipo na fila do mercado, e percebo pessoas com pressa. Isso vale também no trânsito - qualquer aumento de velocidade ou buzinada já me dá um ataque. E eu pensei: será que é coincidência ou a ansiedade alheia está me afetando?
vPois bem. Segundo uns estudos realizados por pesquisadores da Universidade de Guangzhou, sugere-se que a ansiedade pode ser transmitida. O estudo foi realizado com roedores, mas, sabe-se que tanto os humanos como os roedores são capazes de transmitir estresse aos seus parceiros por meio da interação social. Os irmãos “normais” da ninhada de camundongos exibiram “anormalidades comportamentais” apenas ao conviver e testemunhar seus irmãos estressados e ansiosos.
Isso é completamente alarmante visto que não precisamos presenciar isso pessoalmente, mas também por meio das telas. O excesso de informação e notícias sensacionalistas podem fazer muito mal à saúde mental. E outra: o Brasil já foi considerado o país com a população mais ansiosa do mundo. Você consegue perceber a dimensão disso tudo?
Há inúmeros artigos científicos demonstrando que as emoções podem ser transmitidas. Como esse feito em 2008 que eu achei até promissor, o qual relata que a sua felicidade pode deixar um amigo que mora a menos de um quilômetro com 25% mais chances de ficar feliz também. Ou seja, a sua felicidade pode aumentar, estatisticamente, a felicidade de alguém em um raio de até 1,6 km. É aquilo: você é a média de quem convive. Sendo assim, pessoas que são cercadas por muitas pessoas felizes têm mais probabilidade de se tornarem felizes também.
Agora vamos seguir pelo outro lado. Um estudo mais infeliz. de 2013, sugere que dividir ambientes com pessoas deprimidas aumenta o risco de obter suas frequências baixas e seus pensamentos pessimistas. Uma ótima notícia para os obsessores de plantão. Não somente isso, voltando ao estresse e à ansiedade, foi demonstrado, novamente, que apenas ver alguém agindo assim, até mesmo um estranho, pode elevar seus próprios níveis de hormônio do estresse - o cortisol. Levando isso a um ponto de vista evolutivo, não é de se surpreender muito, visto que observar outra pessoa em seu campo visual com aspecto de medo e agitação como se um grande leão fosse atacá-la é um ótimo indicativo para se sentir da mesma forma - isso pode salvar sua vida. Mas, hoje em dia, como não precisamos lidar com o medo iminente de sermos atacados, a ansiedade não é mais tão útil, mas continua sendo contagiosa.
Até aí tudo bem.
Mas agora, li um artigo que diz haver um novo diagnóstico para nossa linda lista de coleção de diagnósticos psiquiátricos: o transtorno de ansiedade infeccioso. Sim, como um vírus. Isso, por um lado, pode até ser bom: saber que isso existe nos ajuda a querer combater a situação - reconhecer os sinais e tentar ser mais calmos. Nós já temos nossos próprios motivos para surtar; não vamos deixar o surto alheio nos atingir. A solução agora parece ser ir atrás de estratégias para mitigar essa situação. Não colocar gasolina no fogo. Não deixar as peças de dominó caírem em cadeia.
Não querendo trazer o misticismo aqui, mas parece que nossa energia é cientificamente contagiosa. Você atrai aquilo que emite e vice-versa. O importante agora é perceber, nessa pandemia de ansiedade, como escapar desse mal e não atiçar mais lenha na fogueira. Alguma dica?